Adolescente foi morto à queima-roupa no Alemão; PMs são acusados do crime
Foto: Reprodução
Laudos periciais apontam que PMs da UPP Alemão executaram um adolescente de 17 anos na Pedra do Sapo, dentro do complexo de favelas da Zona Norte. Matheus da Silva Alves Biserra foi morto por diversos disparos de fuzil no peito, na barriga e nas axilas no dia 7 de janeiro deste ano em meio a uma incursão de policiais da UPP na favela.
A necrópsia do corpo de Matheus aponta “múltiplas feridas” com “orlas de queimadura”, ou seja, marcas de queimadura na pele da vítima, ao redor do local de entrada dos projéteis, produzidas por tiros encostados ou executados a, no máximo, 5 centímetros de distância da vítima. Disparos à queima-roupa.
Na semana passada, o Ministério Público pediu à Justiça a “suspensão do exercício da função policial, com a consequente cassação da autorização de porte de arma de fogo” do cabo Carlos Vinícius de Lima Almeida e do soldado Ubiratan de Almeida Júnior, que participaram da ocorrência.
De acordo com o texto do promotor de Justiça Alexandre Themístocles, que assina o documento, os “policiais militares, em situação de serviço, em frontal desarmonia com os valores cultivados na caserna, executaram um adolescente ou, no mínimo, excederam os limites legais da legítima defesa”.
O caso havia sido registrado, na época, como “homicídio decorrente de intervenção policial”, na 22ª DP (Penha). Os policiais alegam que reagiram a disparos feitos Matheus, que estaria armado. A investigação segue a cargo da 45ª DP (Complexo do Alemão).
A pedido do EXTRA, o perito legista Leví Inimá de Miranda analisou o laudo de necrópsia. De acordo com o especialista, “houve, claramente, uma execução”.
— A vítima foi atingida, primeiro, de trás para frente, à queima-roupa, e caiu ao solo, sofrendo escoriações no rosto. E, depois, foi alvejada pela frente, já caída — afirma Inimá.
Após o crime, na delegacia, os policiais alegaram que foram alvo de um ataque de bandidos e apresentaram uma pistola e um carregador, que afirmaram estar com Matheus.
De acordo com o depoimento do soldado Ubiratan, Matheus “se virou na direção dos policiais e efetuou diversos disparos com uma pistola”. Já o cabo Vinicius repete a mesma versão e admite ter feito 16 disparos com um fuzil calibre 7.62 na ocasião.
Ambos os policiais militares envolvidos no caso alegam que Matheus ainda estava consciente quando foi levado pelos próprios PMs para o Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha. O Boletim de Atendimento Médico da vítima ainda não foi juntado ao inquérito, por isso a polícia ainda não sabe se ele chegou morto ao hospital.
No dia do crime, não foi realizada perícia no local. Segundo um despacho da 22ª DP, na ocasião seria “desproporcional, sem razoabilidade e de pouca prudência levar equipe de peritos e policiais a local conflagrado, em que acabara de ocorrer confronto armado, para realizar exame em local desfeito”.
Parentes da vítima, que pediram para ter suas identidades preservadas, afirmaram ao EXTRA que, ao contrário do que alegaram os policiais, Matheus não estava armado. Segundo eles, também não houve tiroteio na ocasião. Nenhum integrante da família do adolescente foi ouvido no inquérito até agora.
O jovem já havia sido apreendido uma vez por tráfico de drogas, em maio de 2014, também na Pedra do Sapo. Na ocasião, ele portava, segundo o policial que registrou a ocorrência, 85 gramas de maconha, 67 de cocaína e nove de crack.
Fonte:Edtra
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