Lavanderia do contraventor Rogério Andrade, patrono da Mocidade, movimentou R$ 8 milhões em um ano
Rogério Andrade e seu filho, Gustavo: alvo de investigação da PF Foto: Rafael Moraes / Rafael Moraes/ 03.03.2014
Uma lavanderia de roupas, de propriedade de Rogério Andrade, presidente de honra da Mocidade Independente de Padre Miguel, é investigada por suspeita de lavagem de dinheiro do jogo do bicho. Uma devassa feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) nas empresas do contraventor revela que a RAI Holding Participações Societárias Ltda., em nome de Rogério e de seu filho, Gustavo de Andrade e Silva, “com atuação no ramo de lavanderia e tinturaria”, movimentou R$ 7.932.538 em menos de um ano, entre 2012 e 2013. Segundo o documento, obtido pelo EXTRA, a empresa tem faturamento anual de R$ 1,8 milhão, quantia quatro vezes e meia menor do que a movimentada.
De acordo com o relatório do Coaf, a lavanderia tem apenas dois funcionários registrados e sede numa sala comercial na Barra da Tijuca. Dos quase R$ 8 milhões movimentados no período analisado, R$ 1,6 milhão foram depositados em dinheiro e R$ 800 mil, sacados também em espécie.
O documento faz parte de uma investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), que apura movimentações financeiras “incompatíveis com o patrimônio” de Rogério Andrade. No total, o documento aponta movimentações financeiras de R$ 27,3 milhões nas contas do contraventor entre 2006 e 2014. Rogério alega ter renda mensal de R$ 36 mil, como diretor administrativo da RAI Holding.
Em maio do ano passado, em meio às investigações, a Justiça Federal bloqueou os bens de Rogério Andrade. Em dezembro, após recurso de Rogério, o desembargador federal Antonio Ivan Athié manteve o bloqueio. Sobre as atividades da lavanderia, o magistrado escreve, na decisão, que as investigações “não constataram a participação da Holding em nenhuma atividade que justificasse esses vultosos valores” movimentados.
Justiça: dinheiro tem origem ‘obscura’
Para a Justiça Federal, a origem do dinheiro movimentado por Rogério Andrade em suas empresas é “obscura e de licitude duvidosa”. Na decisão em que manteve o bloqueio dos bens do patrono da Mocidade, o desembargador federal Antonio Ivan Athié escreveu que informações colhidas pela PF dão conta de que Rogério continua explorando o negócio ilegal do jogo do bicho e de máquinas caça-níqueis.
“Além de não haver evidência de atividade econômica lícita a dar lastro à vultosa movimentação de R$ 27,3 milhões, as informações colhidas nas investigações dão conta que o apelante Rogério continua a se dedicar à exploração de atividades de jogo do bicho e máquinas caça-níqueis, havendo sérios indícios de que tem persistido em praticar delitos”, escreveu o magistrado.
Procurada, a defesa de Rogério Andrade alegou que recorre do bloqueio dos bens e que já apresentou um laudo técnico à Justiça atestando a “legalidade da movimentação financeira e fiscal”. De acordo com o advogado Raphael Mattos, o laudo produzido pela defesa “é um exame técnico e real, ao contrário do relatório do Coaf”.
Para o magistrado, entretanto, “a despeito de a defesa afirmar que as transações são atos normais de comércio, é de se ver que não fez juntar qualquer prova de que essas empresas são produtivas e inseridas legalmente no mercado”.
Rogério de Andrade e sua mulher Fabíola de Oliveira Foto: Marcelo Theobald
O samba e o bicho
Em 2009, Rogério Andrade foi condenado a 18 anos de prisão por formação de quadrilha, contrabando e corrupção ativa. No entanto, desde 2012, graças a um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o contraventor responde ao processo em liberdade.
Em 2013, Rogério foi absolvido da acusação de ter ordenado a morte de seu primo, Paulo Roberto de Andrade Silva, e o motorista Haroldo Alves Bernardo. Os assistentes de acusação recorrem da decisão.
Após ser posto em liberdade, Rogério assumiu o controle da Mocidade — mesma escola que seu tio, o contraventor Castor de Andrade, conduzia na década de 1980. Desde 2012, ele acompanha os desfiles na Sapucaí, num dos camarotes mais luxuosos da Avenida. A Mocidade é a última escola a desfilar hoje.
Atualmente, Rogério refuta qualquer ligação com a contravenção. Numa entrevista ao EXTRA em 2015, Rogério se apresentou como empresário. “Eu tenho várias empresas: estaleiro, fazendas de café, imobiliária, mexo com festas. Vivo uma vida empresarial”, disse.
Em setembro do ano passado, Fabíola de Oliveira, mulher do bicheiro, foi atingida por um tiro de pistola no braço, próximo à residência do casal, no Itanhangá, Zona Oeste do Rio. Na Polícia Civil, o caso foi registrado como tentativa de roubo.
Fonte:Extra
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