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Com cirurgias canceladas, Hospital Pedro II tem monitores cardíacos sucateados. Paciente morre e ninguém vê

O Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, parou de realizar cirurgias eletivas ortopédicas e neurológicas Foto: Fabiano Rocha/21.01.2018

A falta de materiais vem provocando o cancelamento de cirurgias no Hospital municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste. O problema atinge principalmente procedimentos ortopédicos e neurológicos, que envolvem próteses e insumos mais caros. No entanto, profissionais de saúde da unidade relatam que o desabastecimento não é o único obstáculo que enfrentam para salvar vidas. As condições precárias para manter os pacientes no pós-operatório são assustadoras. Monitores cardíacos sucateados, ligados a cabos presos com esparadrapos, mostram valores errados de medição e não alertam para casos de parada cardíaca. A gambiarra continua com o uso de respiradores de transporte em pacientes graves, que acabam morrendo com a ventilação inadequada.
— Já faz algum tempo que não temos respiradores. Os pacientes graves que precisam ser operados de urgência ficam em ventiladores de transporte, o que mata o paciente aos poucos, pois eles não suportam uma ventilação inadequada por vários dias. Os monitores não funcionam bem. Na sala vermelha, onde sempre tem 30 pacientes ou mais, há cerca de 22 monitores. Desses, dez estão funcionando e de forma precária. Já pegamos pacientes que estavam em óbito havia horas, porque o monitor nos mostrava valores irreais — relata uma profissional de enfermagem.
Outro funcionário confirma que “há tempos faltam respiradores e monitores cardíacos” na unidade:
— As cirurgias estão sendo canceladas por falta de material e também de suporte pós-operatório. Os neurocirurgiões não podem submeter um paciente a uma cirurgia grande sem ter como mantê-lo monitorado em local adequado depois. Como não há outro jeito, usamos respiradores de transporte, que não são adequados para uso contínuo, mas apenas para transferir o paciente de um setor para outro, ou de um hospital para outro. Nós temos que ficar fazendo gambiarras com fios que estão se partindo para tentar uma monitorização por alto. Mas, com frequência, pacientes vão a óbito sem que a gente perceba porque o monitor não registra a realidade. Na sala vermelha, são 30 pacientes graves, em média, para dois enfermeiros e cinco técnicos de enfermagem. Na sala amarela, são 90 pacientes para sete técnicos. Não damos conta. Daí, muitos pacientes vão a óbito sem que vejamos.
   Um monitor de transporte é usado por paciente no Hospital Pedro II Foto: reprodução

A dona de casa Solange Alves, de 52 anos, conta que a mãe ficou cerca de 30 dias internada no Pedro II esperando uma cirurgia ortopédica. Segundo ela, no dia 30 de março, a aposentada Maria Aparecida Alves, de 94 anos, caiu em casa e foi levada para o hospital, com fortes dores na perna e na cabeça. Solange lembra que a mãe não foi submetida a exame de radiografia nem tomografia.
— Fizeram curativo e liberaram. As dores continuaram e procuramos uma clínica particular, onde a radiografia detectou a fratura no fêmur. Voltamos com ela para o Pedro II em 7 de abril. Ela só foi operada em 8 de maio. A consulta de revisão foi no fim de junho, mas só hoje (ontem) conseguimos raios X. É uma vergonha — diz ela.
Salários estavam atrasados
A falta de materiais simples também prejudica o atendimento. Outra enfermeira do Pedro II conta que até luvas e algodão desapareceram das prateleiras da unidade:
— Teve um dia que nem luva de procedimento tinha, precisamos usar luva estéril. Nos últimos dois dias, não houve cirurgias ortopédicas nem neurológicas. Apenas as mais simples estão sendo realizadas, como as de hérnia.
Segundo ela, os funcionários da SPDM, organização social (OS) que administra o Pedro II, estão há sete meses sem receber o auxílio-alimentação. Os salários, que estavam atrasados há mais de 20 dias, foram depositados ontem.
— Estávamos sem maqueiros e com muita gente faltando. Vieram hoje (ontem) porque o salário caiu na conta.
A Secretaria municipal de Saúde (SMS) informou que parte dos materiais e insumos do hospital já foi restabelecida e “a situação estará regularizada o mais brevemente possível”. A SMS afirmou ainda que o Pedro II está realizando cirurgias de emergência, já as ortopédicas classificadas como eletivas estão sendo feitas em outros hospitais da rede, de acordo com a disponibilidade de vagas. A secretaria informou que “os pacientes que necessitam de suporte à vida estão assistidos com equipamentos em bom funcionamento”.
Reflexos da paralisação
A suspensão de neurocirurgias no Pedro II já sobrecarrega outros serviços, como o do Miguel Couto. Um cirurgião do hospital da Gávea que preferiu não ser identificado conta que o impacto é enorme:
— Antes, chegavam de seis a sete pacientes da Baixada e da Zona Oeste a cada plantão de 12 horas. Agora, são de 15 a 17. O sucateamento do serviço do Hospital Federal do Andaraí, que produz muito pouco, também colabora para isso.
A direção do Miguel Couto confirma o aumento da demanda de casos neurocirúrgicos. Já a do Andaraí alega que a unidade está abastecida de insumos e materiais e que “mantém todos os serviços em pleno funcionamento, inclusive o setor de neurocirurgia”.
A organização social SPDM, que administra o Pedro II, não foi localizada para comentar os episódios.



Fonte:Extra

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