No dia de Cosme e Damião, menino de 7 anos vai à igreja agradecer superação de câncer
Juan carrega uma vela de 1,33 metro para agradecer a graça alcançada Foto: Gabriel de Paiva
Um menino de 7 anos carregando uma vela de 1,33 metro chamou atenção durante uma missa em honra a São Cosme e São Damião, no Andaraí, ontem de manhã. Juan Miguel Ferreira Azevedo foi diagnosticado com leucemia há um ano. Ficou internado dois meses e se submeteu aos tratamentos de quimioterapia e radioterapia. No mês passado, um exame mostrou que as células cancerígenas não estão mais presentes no sangue, uma batalha vencida na guerra contra a doença.
Na missa, ele agradeceu pela intercessão dos santos, considerados padroeiros dos médicos e das crianças. Foi a mãe de Juan, Leny Ferreira, de 47 anos, que fez a promessa: se o menino fosse curado, acenderia uma vela do tamanho dele como gratidão.
— Foi um sofrimento, mas, graças a Deus, hoje só temos a agradecer. Ele ainda vai tomar remédios por um ano, o mais difícil já passou — diz ela.
A aposentada Ana Maria Santos, de 65 anos, também foi à igreja agradecer pela superação de problemas de saúde.
— Recentemente, operei catarata e retirei um mioma. Fiz minha primeira comunhão nessa igreja, aos 12 anos, e volto todos os anos porque sei que os santos estão sempre intercedendo por mim — diz ela.
Embora os santos sejam considerados padroeiros de médicos, farmacêuticos e crianças, o pároco da Paróquia São Cosme e São Damião, padre Walter Almeida Peixoto, afirma que muitos fiéis ainda vão à igreja para pedir emprego.
— Por conta dos efeitos da crise, muitos devotos fazem pedidos no sentido de melhorar a situação financeira — diz ele.
Datas diferentes
Cosme e Damião nasceram na cidade de Egeia, na Grécia, por volta de 260 d.C. Irmãos gêmeos de família nobre, ambos atuaram como médicos no Oriente Médio e ficaram conhecidos por tratar de doentes pobres sem cobrar pelas consultas. Morreram degolados, por volta do ano 300, vítimas de perseguição pelo imperador romano Deocleciano, que não aceitava a propagação da fé católica.
A canonização de São Cosme e São Damião aconteceu no ano de 630, por ordem do Papa Félix IV. Em honra aos mártires, foi construída em Roma a Basílica dos Santos Cosme e Damião, onde estão os restos mortais dos irmãos gêmeos. Também há relíquias dos santos distribuídas em outros templos romanos, além de igrejas e mosteiros da Alemanha.
O dia de São Cosme e São Damião é celebrado em datas diferentes pelos católicos e por devotos de religiões afro-brasileiras. Os seguidores do candomblé e da umbanda festejam os santos gêmeos em 27 de setembro. Já a Igreja Católica comemora no dia 26, porque o dia 27 é dedicado a São Vicente de Paulo, que morreu nesta data. No caso dos gêmeos, não se sabe com exatidão o dia de suas mortes. Já a Igreja Ortodoxa celebra a memória dos santos no mês de novembro.
Para o Candomblé e a Umbanda, Cosme e Damião são os orixás Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã. Por serem relacionados com divindas infantis, os devotos das religiões afro-brasileiras têm o costume de distribuir guloseimas nesta data, para agradar os pequenos. No Rio, a comemoração é feita com doces e brinquedos, enquanto na Bahia, além dos doces, são oferecidos caruru, vatapá e pipoca.
— O importante nessa celebração é perceber a deificação da pureza, da identidade que a criança representa. Dentro do Candomblé, que é uma religião iniciática, todo o processo que o neófito se submete é um processo de regressão pós-uterina. Se ele um dia for sacerdote, antes precisa voltar a ser criança. Esse é o princípio que alicerça toda essa filosofia. Oferecer doces é como distribuir sorrisos, adoçar relações — diz Pai Márcio de Jagun, professor de cultura e idioma Iorubá na UERJ e na UFF e presidente do conselho de defesa e promoção da liberdade religiosa do estado do Rio.
Fonte:Extra
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