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Maracanaú e Fortaleza lideram mortes violentas em 2017


Estudo do Ipea mostra que a cidade da Região Metropolitana foi a mais violenta do País. No entanto, estatísticas mais recentes mostram que a taxa de crimes violentos vem caindo em todo o Estado


Guerra entre facções impulsionou número de homicídios no Ceará, em 2017FOTO: JOSÉ LEOMAR


O Atlas da Violência 2019 - Retrato dos Municípios Brasileiros (com números de 2017), divulgado, ontem, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reforçou o quão sangrento foi aquele ano no Ceará. Entre as cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes, Maracanaú foi a mais violenta. Já entre as capitais do País, Fortaleza ficou em primeiro lugar.
O estudo, feito pelo Ipea em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), estudou 310 municípios e contabilizou a taxa estimada de homicídio por 100 mil habitantes. A pesquisa considera tanto homicídios registrados quanto homicídios ocultos (e, para isso, levou em conta que outro estudo aponta 73,9% das mortes violentas com causa indeterminada são homicídios mal classificados), o que se diferencia dos números da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).
Maracanaú teve um total de 328 mortes violentas, em uma população de 224.804 habitantes, em 2017. O índice de homicídios do Município da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) foi de 145,7 a cada 100 mil habitantes e se notabilizou como o maior do Brasil. A estudante Shyslane Nunes de Sousa, de 24 anos, foi uma dessas vítimas. Ela foi alvejada por um policial militar que a confundiu com uma criminosa, em uma intervenção desastrosa a um assalto.
"Em 2017, acontecia muito assalto, muito assassinato. De 2018 para cá, eu ouvi falar menos. Sobre a morte da minha filha, é o que sempre digo: foi um erro grotesco dos policiais e uma das causas foi porque tinha muito assalto na região. Hoje, eu acho que tem mais policiamento, sempre vejo Polícia passando, mas não sei se, com isso, eu estou seguro", relata o pai da vítima, Francisco Roberto de Sousa.
Outras cidades
Outras oito cidades cearenses foram analisadas: Caucaia, Crato, Fortaleza, Iguatu, Itapipoca, Juazeiro do Norte, Maranguape e Sobral. Caucaia tem a segunda pior colocação do Estado, com índice de 96,6 homicídios a cada 100 mil habitantes; e Fortaleza, a terceira posição, com 87,9 mortes violentas. A menor taxa é de Itapipoca: 11,1.
Fortaleza apresenta o pior índice de homicídios, a cada 100 mil habitantes, entre as capitais. Na sequência, vêm Rio Branco, no Acre, com 85,3 mortes, e Belém, no Pará, com 74,3. Cuiabá, no Mato Grosso, tem o melhor número, 28,8 homicídios; seguido de Florianópolis, com 30. A pesquisa ainda mostra que as grandes cidades do Nordeste e do Norte concentram as piores taxas de homicídios no Brasil. Dos 20 municípios mais violentos, 18 estão nessas duas regiões. Logo atrás de Maracanaú, estão Altamira, no Pará, com 133,7 mortes a cada 100 mil habitantes; e São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, com 131,2 mortes.
A pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), socióloga Suiany Morais, cita alguns fatores para o ano de 2017 ter sido o mais letal da história do Ceará. "Primeiro, houve uma migração da violência do Sul e do Sudeste do País para o Norte e o Nordeste, por causa da rota dos Solimões, que traz a droga pelo rio até o Nordeste, em substituição às rotas mais tradicionais. O Ceará sempre foi um local privilegiado para escoamento da droga e se tornou ponto estratégico".
Oportunidades
"A outra questão é o acesso da população. No Norte e no Nordeste, há menos desenvolvimento infantil, oportunidades educacionais, mercado de trabalho e políticas públicas. O Ipea traz os indicadores sociais (em outro estudo). Cerca de 30% da população cearense sobrevive com menos de 199 reais. Parcela significativa tem uma renda muito baixa, enquanto um parcela pequena concentra maior parte da renda. A população carcerária é formada principalmente por negros, pobres, pessoas sem sequer ensino fundamental, que não tiveram acesso à saúde, alimentação e mercado de trabalho. A única saída é o crime", completa.
Nesse contexto, as facções criminosas, principalmente Comando Vermelho (CV) e Guardiões do Estado (GDE), arregimentaram jovens no Ceará e se digladiaram em 2017, na disputa por território para o tráfico de drogas. Em todo o território cearense, foram 5.133 homicídios.
Melhora
Questionada sobre os números negativos dos municípios cearenses, a SSPDS afirma, em nota, que o Estado consegue diminuir os homicídios há 15 meses seguidos e a Capital, há 16 meses consecutivos. Em Fortaleza, o número de mortes caiu de 1.979, em 2017, para 1.482, em 2018, o que representa uma redução de 25,1%.
"Nos últimos anos, o Ceará trabalhou na integração entre instituições e vem investindo no ingresso de novos servidores, na formação continuada dos profissionais da segurança pública, na aquisição de equipamentos, assim como na inserção de pesquisadores de universidades na construção de novas ferramentas tecnológicas, voltadas para as necessidades das forças de segurança", ressalta a Pasta.
Conforme a Secretaria, a melhora também foi percebida em Maracanaú. O Município teve uma redução de 44,4% no número de mortes violentas, ao passar de 273 casos em 2017 para 219 crimes, em 2018. A Secretaria da Segurança Pública destacou o investimento feito na cidade, com instalação de uma base do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), da Polícia Militar do Ceará, ainda em 2017. E, no ano seguinte, com a instalação de 20 câmeras do sistema de videomonitoramento e a inauguração da nova sede da Delegacia Metropolitana de Maracanaú.



Fonte:Com informações do diariodonordeste


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