Deputado bolsonarista é acusado pela PGR de forjar o próprio atentado à bala
A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado federal bolsonarista Loester Trutis (PSL-MS) por comunicação falsa de crime, porte ilegal de arma e disparo de arma de fogo. Ele é acusado de forjar o próprio atentado.
Em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), o vice-procurador-geral Humberto Jacques de Medeiros diz que ‘robustos elementos’ contradizem a versão do parlamentar.
“Diversos Laudos Periciais, Relatórios e Informações Policiais, além de oitivas, revelaram a real dinâmica dos fatos e refutaram a versão inicialmente apresentada pelos denunciados à Polícia Federal”, afirma a PGR.
O deputado bolsonarista alega ter sido vítima de um ataque a bala em fevereiro do ano passado na rodovia BR-060, entre Sidrolândia (MS) e Campo Grande (MS), e atribui a emboscada a uma disputa política no Mato Grosso do Sul.
A Procuradoria também chama atenção para o uso político do episódio. “Considerando que o porte de arma é uma pauta política defendida intensamente pelo Deputado Loester Trutis; o Parlamentar, ao noticiar o episódio, atribui ao porte de arma a ausência de lesões e, até mesmo, o escape da morte”, destaca o vice-procurador.
Caberá à ministra Rosa Weber, relatora do caso no STF, decidir se aceita ou não a denúncia.
Ao concluir a investigação, em maio, a Polícia Federal apresentou um relatório de 105 páginas em que rebate a versão do deputado e do assessor dele, Ciro Nogueira Fidelis. Os investigadores disseram que ambos prestaram informações falsas para tentar inviabilizar as apurações.
“Na verdade, as informações recebidas, constantemente, serviram somente para que fossem empreendidos esforços em diligências desnecessárias, tirando os investigadores do foco”, diz um trecho do documento. “As diligências que tomaram por base a versão trazida pelas supostas vítimas não eram corroboradas com nenhum dado, prova ou até mesmo indício e sempre levavam a investigação por caminhos que não traziam quaisquer resultados”, acrescenta a PF.
Ao cruzar imagens de câmeras de segurança instaladas no trajeto e dados do GPS do carro do deputado, a Polícia Federal concluiu que não havia nenhum veículo perseguindo ou monitorando Trutis. A versão dos investigadores é que o parlamentar entrou em uma estrada secundária e atirou contra o próprio veículo.
“O veículo esteve parado no mesmo local por exatos 40 segundos, entre o horário das 05:29:02 às 05:29:42. E mais, por aproximadamente 24 segundos o automóvel esteve com a ignição desligada. Tempo suficiente para descer do veículo, efetuar vários disparos de arma de fogo e retomar para dentro do veículo”, afirma a PF.
“Ao que tudo indica, planejaram de madrugada o plano e pela manhã cedo foram executá-lo, sem antes ter estudado a localidade. Essa escolha ocorreu ali mesmo na rodovia BR-060. É possível constatar pelos dados do rastreador veicular como o Toyota Corolla trafegou na rodovia, nos mais diversos sentidos em velocidades baixas, pois os atores da tragicomédia estavam procurando o lugar para encenarem a sua peça”, diz outro trecho do relatório.
COM A PALAVRA, O DEPUTADO
“Confio no poder da verdade. Sou vítima de um refinado conluio de autoridades locais, que induziram o PGR e a ministra a erro. Testemunhas essenciais não foram ouvidas, e provas foram destruídas ou manipuladas, como por exemplo o GPS do carro que eu ocupava, que foi formatado pela locadora. Ou mesmo o veículo alvejado, que não foi preservado pela polícia técnica, tendo sido devolvido à locadora, reformado e vendido. Em ambos os casos me foi cerceada qualquer possibilidade de proceder perícia complementar e independente. Tudo isso foi feito com a autorização da Polícia Federal do Mato Grosso do Sul, um verdadeiro absurdo jurídico.
Desde o primeiro dia, meu mandato se pautou no combate ao crime organizado e no fortalecimento das Instituições de Segurança Pública que combatem quadrilhas que assolam o Estado do Mato Grosso do Sul há mais de 30 anos.
Por fim, espero ansiosamente que as provas possam ser analisadas fora do MS, e os atos ilícitos dessa investigação – que nunca teve o intuito de apontar o autor da tentativa de assassinato que sofri, e sim tenta promover um assassinato de reputação e da minha vida política – sejam finalmente demonstrados.”
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