Automedicar-se traz riscos à saúde
O uso de medicamentos sem orientação médica ou farmacêutica pode deixar sequelas graves ou levar à morte
Medicamentos comprados sem prescrição médica exigem atenção do usuário. ( Foto: Helene Santos )
Desde janeiro, quando a típica estação chuvosa começou a se desenhar no Ceará, aumentaram os relatos de viroses, bronquites e outras doenças respiratórias, que se somaram aos crescentes casos de dengue e chikungunya no Estado. Em busca de uma cura rápida para o desconforto, os adoentados exploram tratamentos conhecidos por amigos, vizinhos e familiares ou disponibilizados na Internet. No entanto, profissionais da saúde demonstram apreensão com os riscos de se automedicar sem orientação especializada.
Nos últimos dois anos, o Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), que funciona no Instituto Dr. José Frota (IJF), contabilizou 566 atendimentos presenciais por intoxicação medicamentosa acidental. Segundo a coordenadora do serviço, Poliana Lemos, o número é "razoável", embora fique atrás de acidentes com animais peçonhentos e com produtos sanitários.
É fato que algumas classes terapêuticas não necessitam de receita médica, por tratarem sintomas e males menores, como dores de cabeça e resfriados. Contudo, como alerta a especialista, eles podem ser usados equivocadamente, seja pela superdosagem ou pelo erro da via de administração, tanto pelos pacientes quanto por seus cuidadores.
"Geralmente, atendemos a crianças que tomaram o remédio inadvertidamente ou a pacientes psiquiátricos que acabaram tomando toda uma cartela de psicotrópicos", relata Poliana. Segundo ela, anticonvulsivantes e ansiolíticos são os responsáveis por intoxicações mais graves, deixando sequelas ou levando à morte.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que, de acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), foram registrados 768 óbitos por intoxicação medicamentosa no País, em 2014. No ano anterior, foram 756 óbitos. Além disso, a Pasta registrou, até setembro de 2016, 6.692 internações em decorrência de intoxicação medicamentosa. Em 2015, foram 9.106.
Facilidades
"Os medicamentos mais consumidos no Brasil são, sem dúvidas, os analgésicos e os anti-inflamatórios. A venda de multivitamínicos e antigripais também cresce quando existe essa sazonalidade de doenças respiratórias", afirma Mirian Parente, coordenadora do Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (GPUIM/UFC). Adultos jovens são os que mais abusam da automedicação.
Uma das explicações para o fenômeno, segundo a especialista, é a facilidade na aquisição de medicamentos nas farmácias, com prateleiras exibindo diversas cores, sabores e formatos. "Embalagens chamativas são perigosíssimas. Existem normativas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a publicidade de medicamentos para evitar que o público seja incentivado a consumir medicamentos, mas já vi empresas vendendo vitamina C como se fosse jujuba. Isso não deveria acontecer", opina Mirian.
A Agência estipula ainda que medicamentos de prescrição só podem ficar expostos atrás dos balcões de atendimento. Outro problema mais grave, para a pesquisadora, se refere à realidade do atendimento médico no Brasil. "Temos um Sistema Único de Saúde que, na maioria das vezes, não atende às necessidades. Às vezes, a pessoa tem urgência em resolver seus problemas e termina na farmácia", esclarece.
Nesses casos, o farmacêutico pode orientar sobre a utilização correta e o acondicionamento dos medicamentos, como explica a diretora tesoureira do Conselho Regional de Farmácia do Ceará (CRF-CE), Luciana Irineu. Porém, "a farmácia não substitui o atendimento médico. O que ela pode fazer é dar uma solução para problemas mais menores", defende. A entidade também fiscaliza o exercício da profissão para cobrar melhor acesso à informação ao público.
(Colaborou Nícolas Paulino)
Fonte:DN
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